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 Por Joaquim B. de Souza, editor
 Terça-feira, 06/03/2018, 09h00
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8 de março homenagem ao Dia Internacional da Mulher

Crédito da imagem: Acervo de família / capa do livro Júlia e José, Luzes na Eternidade
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Acervo de família / capa do livro Júlia e José, Luzes na Eternidade

Neste dia que em que muitas mulheres famosas, estrelas e grandes personalidades históricas são lembradas numa justa homenagem, abro um parêntese para homenagear uma única mulher: DONA JÚLIA!

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Você pode estar perguntando: quem foi D. Júlia?

D. Júlia, um ser único! D. Júlia, um ser incomparável. Nunca se queixou do trabalho em turno intermitente de 24 horas todos os dias da semana. Pois, parecia-lhe ser o papel de mãe. Nunca se queixou de acordar todas as noites para atender os prantos de um filho chorão, enquanto o resto da casa dormia. Pois, o amor incondicional que nutria pelos filhos superava qualquer adversidade. Amamentou madrugada adentro anos a fio, onze filhos, em noites chuvosas, de temporais, frias ou calorentas, enquanto o resto da casa repousava num sono divino. Segurou nos braços noite intermináveis filhos que vez e outra eram acometidos por quaisquer doenças, dores ou birras, até que a luz do sol penetrava frestas adentro da casa de madeira mal rejuntada para recomeçar tudo de novo.

D. Júlia aprendeu a trocar fralda ainda nos tempos das de pano feitas a partir de sacos de açúcar, no escuro ou apenas com luz parda de lamparina ou de lampião a querosene! Aprendeu a preparar a primeira papinha com o maior cuidado do mundo ainda nos tempos da revolução de Getúlio Vargas, meados do Século XX.

D. Júlia comeu comida fria e, muitas vezes, foi à última a se servir ou mesmo deixou de comer, pois em primeiro lugar estavam seus rebentos. Torceu a cada nascimento para que o filho logo se arrastasse, engatinhasse e finalmente saísse andando, correndo, tropeçando, caindo, levantando, mas que pudesse desocupar um pouco o seu colo para se ocupar as outras tarefas. Cada vez que isso acontecia sentia saudades do bebezinho manhoso que ficava o dia todo em seu colo.

D. Júlia pedia aos céus não ter que olhar para um termômetro marcando 37°. Ter que passar a noite segurando a mão da criança vendo se a febre passou. Tempos difíceis aqueles de medicina precária e de poucos recursos. Nessas horas, morria de vontade de chorar ao ver o filho doente, sem forças, mas segurava firme a vontade de sorrir a qualquer sinal de melhora, usando medicação à base de planta, farinha e limão para salvá-la de diarreia, vômitos, ainda rezava para não se acometidos por catapora, sarampo, varicela ou tosse comprida.

D. Júlia acordava cansada, não há dúvida, depois de uma noite mal dormida. Apesar disso, fazia tudo do mesmo jeito outra vez: dava banho, fazia comida, brincava com os pequeninos, trabalhava na roça, cuidava da casa e colocava os filhos pra dormirem, de novo!

D. Júlia nunca quis estar sozinha e abrir mão de tê-los todos sob sua saia até ter certeza de que seus filhos ficassem bem sem ela. Nunca pagou pra ver! E quando esse dia chegar, se chegasse, contaria os dias para receber o abraço da volta. Ela exercitava a paciência todos os dias. Até que perdia de vez em quando, entre uma crise de birra e outra, mas superava logo.

D. Júlia ouviu dos filhos cada palavra que lhe ensinou. Percebia que não bastava falar, era preciso dar exemplo. E não há no mundo exemplo melhor! Jamais sentiu culpa por tanto trabalho. Ela aprendeu sozinha que, com duas mãos era possível fazer muito mais do que duas tarefas ao mesmo tempo.

Ah, mas ela sentiu também…

Cada mãozinha tão pequena e tão forte que segurara seu dedo indicador como que querendo dizer: “mãe, estou aqui!”. A cada novo rebento por alguns anos afagou os cabelos daqueles pequenos anjos, enquanto estavam sob suas asas.

D. Júlia se enchia de felicidades em ter a casa cheia de risadas e de gritos, até mesmo aqueles chorinhos. Quando cresceram lembrava-se de como se brincava de carrinho de rolimã, de boneca de pano, de esconde-esconde atrás das árvores, de pega-pega pelos terreirões. Dentro de seu coração jamais houve espaço para covardia ou preguiça.

D. Júlia tentou sempre ser uma pessoa melhor a cada dia. Nos terços, nas missas, na fé! Porque cada filho mereceu essa mãe que se aprimorou com o tempo e descobriu que o coração é um espaço infinito. Quanto mais amou seus rebentos, mais amor coube em seu coração.

D. Júlia morreu em 1977, como todos irão morrer um dia!


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