Crédito da imagem: Coletivo Ácido Cético
Devido às práticas "educacionais" do Halloween em inúmeras escolas paranaenses, municipais e estaduais, volto a escrever sobre o assunto, a pedido de leitores (as).
O Halloween (significa, no inglês antigo, "véspera de todos os santos"), também conhecido como Dia das Bruxas, é tradicional nos Estados Unidos. No entanto, a sua origem, há mais de 2500 anos, remonta às etnias Celtas, povos de família linguística indo-europeia, que estavam localizados a Oeste da Europa, hoje Irlanda.
As celebrações do Halloween ocorrem no dia 31 de outubro, para marcar o Ano Novo Celta (Samhain), princípio do outono no hemisfério Norte, além de anteceder o Dia de Todos os Santos. Porem, não se tem certeza do porquê os celtas utilizaram objetos aterrorizantes e fantasias que representavam a morte. De acordo com Thais Pacievitch, Doutoranda em educação:
Uma das teorias a respeito dessa tradição é de que os celtas acreditavam que nesse dia, os espíritos dos mortos se levantavam, e saiam em busca dos vivos, de quem tomariam os corpos. A decoração e as fantasias assustadoras seriam utilizadas como forma de se defender. A frase "travessuras ou gostosuras" (trick or treat, em inglês) também tem origem na tradição celta, assim como a utilização da maçã de diversas maneiras durante o Halloween (cortada ao meio, a parte interna da maçã apresenta o desenho de um pentagrama ) e as abóboras ocas iluminadas (para os celtas, nabos ocos).
Os imigrantes irlandeses, em 1840, trouxeram para os Estados Unidos essa manifestação folclórica. Coube às produções cinematográficas norte-americanas a propagação do Halloween.
Essa doutrinação, por intermédio da indústria cinematográfica americana, pegou no Brasil, com o reforço, evidentemente, de significativa parte dos (das) professores (as) de inglês.
Os protestos vêm se multiplicando pelo Brasil afora contra a prática do Halloween. Eu, particularmente, não tenho nada contra a atividade do Halloween. Todavia, enquanto algumas "escolas" paranaenses estiverem cultivando o Halloween no imaginário estudantil, sem nem sequer lembrar do folclore brasileiro e paranaense, não estarão educando no pleno sentido da palavra.
Lembro que a influência do imperialismo cultural do Tio Sam foi abolida no Estado de São Paulo, conforme a Lei n. 0 11.669, de 13 de janeiro de 2004. Leiamos o Artigo 1 0: "Fica Instituído o "Dia do Saci", a ser comemorado, anualmente, no dia 31 de outubro." As cidades Poços de Caldas e Uberaba (Minas Gerais), Fortaleza e Independência (Ceará) e Vitória (capital do Espirito Santo) também seguiram o mesmo caminho paulista. Já no Paraná...
Foi decretado o Dia do Saci, no mesmo dia 31 de outubro, do Halloween . "A iniciativa foi uma forma de valorizar a cultura brasileira e tentar coibir a americanização - já que, no imaginário do Brasil, o Saci é um símbolo", relata Thais Romanelli, do Educar para Crescer (Grupo Abril).
O Colégio Estadual Professora Ângela Sandri Teixeira, em Almirante Tamandaré, região metropolitana de Curitiba, ao promover o Festival de Talentos, cujo objetivo é a valorização dos dons da comunidade escolar, tem feito, com esmero, a sua parte. Esse evento que era para ter ocorrido em 31 de outubro, dia do Halloween , foi transferido para o próximo dia 14 de novembro, sábado, devido a programação de feriado do dia do município citado.
Parabenizo aos profissionais dessa instituição por incluir na agenda iniciativas voltadas aos interesses locais, em detrimento das "escolas" que estimulam práticas alienantes.
Intelectuais comentam sobre o Halloween, invasão ianque em terras brasileiras
"Halloween pode ser interpretado como um imperialismo cultural". (Professor Dr. Arthur Chapman - University of London-Grã Bretanha).
"É uma alienação da consciência histórica. Um desrespeito à cultura histórica brasileira. É uma imposição do mercado, do consumo, sem nenhuma referência a identidade nacional". (Professora Doutora Maria Auxiliadora Moreira dos Santos Schmidt, a "Dolinha" - Universidade Federal do Paraná).
"Através da Educação Histórica, podemos trabalhar de forma crítica essa manifestação cultural de influência norte-americana. (...) Propor às crianças e jovens uma compreensão da situação baseada em julgamentos objetivos, isto é, uma análise das forças que contribuem para a manutenção dessa festa Halloween". (Doutora Isabel Barca - Universidade do Minho-Portugal).
"A nossa mentalidade colonial submissa aceita ativamente (...) macaqueia os fenômenos estrangeiros. Cabe à escola explicar, no contexto, onde está enraizado o Halloween , como o Halloween aterrisou no Brasil. A escola deve fazer entender que esse fenômeno é uma cópia, pois não pertence à nossa cultura". (Professor Doutor Estevão de Rezende Martins - Universidade de Brasília.
"O Halloween foi incorporado na cultura escolar por intermédio dos professores de inglês, que, com o intuito de facilitar o ensino da língua inglesa, não percebem o que estão passando aos jovens. Cabem a nós, historiadores, desenvolver uma relação crítica acerca da incorporação desse costume". (Professor Doutor Marcelo Fronza - Universidade Federal do Mato Grosso).
É uma contradição e um contrassenso constatar que muitas instituições escolares, talvez desinformadas, celebrem o Halloween , uma festa dos imperialistas norte-americanos, que ao longo da história não respeitaram (e não respeitam) vários povos (o Brasil é um deles).
Jorge Antonio de Queiroz e Silva é historiador, palestrante, professor. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.
Texto originalmente publicado no site www.noticiasdejussara.com.br em 01/11/2015, 19h31