D. Júlia, um ser único!
Nunca se queixou do trabalho em turno intermitente de 24 horas todos os dias da semana. Nunca se queixou de acordar todas as noites enquanto o resto da casa dormia. Amamentar na madrugada anos a fio para criar dez filhos, enquanto o resto da casa descansava a luz do sol penetrar frestas adentro para recomeçar tudo de novo.
D. Júlia aprendeu a trocar fralda dos tempos das de pano no escuro ou apenas com luz parda de lamparina a querosene! Aprendeu a preparar a primeira papinha com o maior cuidado do mundo ainda nos tempos da revolução de Getúlio Vargas.
D. Júlia comeu comida fria e, muitas vezes, foi à última a se servir ou mesmo deixou de comer. Torceu a cada nascimento para que o filho logo se arrastasse, engatinhasse e finalmente saísse andando, correndo, tropeçando, caindo, levantando. Cada vez que isso acontecia sentia saudades do bebezinho que ficava o dia todo em seu colo.
D. Júlia pedia aos céus não ter que olhar para um termômetro marcando 37°. Ter que passar a noite segurando a mão da criança vendo se a febre passou. Nessas horas, morria de vontade de chorar ao ver o filho doente, sem forças, mas aguentava firme a vontade de sorrir a qualquer sinal de melhora.
D. Júlia acordava cansada, depois de uma noite mal dormida. Apesar disso, fazer tudo do mesmo jeito outra vez: dava banho, fazia comida, brincava com os pequeninos, trabalhava na roça, cuidava da casa e colocava os filhos pra dormirem, de novo!
D. Júlia nunca quis estar sozinha e abrir mão de tê-los todos sob sua saia até ter certeza de que seus filhos ficassem bem sem ela. Nunca pagou pra ver! E quando esse dia chegar, se chegasse, contaria os dias para receber o abraço da volta. Ela exercitava a paciência todos os dias. Até que perdia de vez em quando, entre uma crise de birra e outra, mas superava logo.
D. Júlia ouviu dos filhos cada palavra que lhe ensinou. Percebia que não bastava falar, era preciso dar exemplo. E não há no mundo exemplo melhor! Jamais sentiu culpa por tanto trabalho. Ela aprendeu sozinha que, com duas mãos era possível fazer muito mais do que só duas tarefas ao mesmo tempo.
Ah, mas ela sentiu também…
Cada mãozinha tão pequena e tão forte que segurara seu dedo indicador como que querendo dizer: “mãe, estou aqui!”. A cada novo rebento por alguns anos afagou os cabelos daqueles pequenos anjos, enquanto estavam sob suas asas.
D. Júlia se enchia de felicidades em ter a casa cheia de risadas e de gritos, até mesmo aqueles chorinhos. Quando cresceram lembrava-se de como se brincava de carrinho de rolimã, de boneca de pano, de esconde-esconde atrás das árvores, de pega-pega pelos terreirões. Dentro de seu coração jamais houve espaço para covardia ou preguiça.
D. Júlia tentou sempre ser uma pessoa melhor a cada dia. Nos terços, nas missas, na fé! Porque cada filho mereceu essa mãe que se aprimorou com o tempo e descobriu que o coração é um espaço infinito. Quanto mais amou seus rebentos, mais amor coube em seu coração.
Texto adaptado pelo autor