Cansei de ouvir que o PT (Partido dos Trabalhadores) é uma organização criminosa. E que em 2003, ano em que essa agremiação chegou ao poder, o estabelecimento do suborno (propina) tomou conta do ambiente político, com ênfase nas práticas nefastas desbaratadas pela Operação Lava Jato. Todavia a delação de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro (Petrobras Transporte), uma subsidiária da Petrobras (Petróleo Brasileiro), desmente essa afirmação.
Li na íntegra a delação de Sérgio Machado. Ele explica, em detalhes, a maneira corrupta de se fazer política no Brasil desde o século passado, 1946. Neste ano, a democracia de massa (até 1964) surgia e com ela as campanhas eleitorais mais dispendiosas, o que originou a corrupção sistêmica. Aliás, lembro que o “lema” de Adhemar Pereira de Barros (1901-1969), ex-prefeito e ex-governador de São Paulo, era “rouba, mas faz”. Barros sofreu inúmeras denúncias de corrupção, porém era estimado pelo povo por causa das obras que implementava.
No tocante ao regime militar (1964-1985), Ricardo Semler, empresário e sócio da Semco Partners, relata que nos anos 70 era impossível negociar com a Petrobras sem pagamento de propina:
Nossa empresa deixou de vender equipamentos para a Petrobras nos anos 70. Era impossível vender diretamente sem propina. Tentamos de novo nos anos 80, 90 e até recentemente. Em 40 anos de persistentes tentativas, nada feito.
Não há no mundo dos negócios quem não saiba disso. Nem qualquer um dos 86 mil honrados funcionários que nada ganham com a bandalheira da cúpula.
Os porcentuais caíram, foi só isso que mudou. Até em Paris sabia-se dos "cochons des dix pour cent", os porquinhos que cobravam 10% por fora sobre a totalidade de importação de barris de petróleo em décadas passadas.
(...) Agora tem gente fazendo passeata pela volta dos militares ao poder e uma elite escandalizada com os desvios na Petrobras. Santa hipocrisia. Onde estavam os envergonhados do país nas décadas em que houve evasão de R$ 1 trilhão – cem vezes mais do que o caso Petrobras– pelos empresários? (Folha de São Paulo, Opinião, 21 de novembro de 2014).
Preso em Curitiba, Pedro Corrêa, ex-deputado e ex-presidente do PP (Partido Progressista), reforça, em delação premiada, a fala de Semler, de que as mutretas na Petrobras ocorriam durante a ditadura militar.
Mas retomemos ao Sérgio Machado, pois as suas declarações já derrubaram três ministros, Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência) e Henrique Alves (Turismo). Será que Michel Temer, presidente interino, também será derrubado por Machado?
De acordo com Sérgio Machado, Michel Temer negociou propina de R$ 1,5 milhão para campanha de Gabriel Chalita à prefeitura da capital paulista em 2012. À imprensa, Temer negou as acusações de Machado, porém não explicou as ligações com Machado, a partir de 2001, no PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), além de não explicitar as questões sobre o relato da propina de 1,5 milhão e nem tampouco o encontro na base aérea de Brasília.
Aguardemos. A história continua...