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Capa do livro Um país sem Excelências e Mordomias.
Comunismo ou capitalismo? Analisa-se em âmbito mundial, a grosso modo, essas duas organizações sociais, a partir dos fatos históricos ao longo do tempo, e chega-se a seguinte conclusão: o comunismo possibilita ao povo educação, saúde, alimentação e residência, mas lhe nega a liberdade. O capitalismo possibilita a liberdade, todavia, o povo tem que se desdobrar para se alimentar, para viver sob um teto, para morrer com dignidade.
E no Brasil? Observa-se clima de intolerância imensurável na maioria da população. Adeptos de esquerda e direita trocam farpas. Estas não contribuem para o amadurecimento da compreensão da realidade política e social e nem tampouco na transformação do país, que levaria à verdadeira reforma política e administrativa.
Ora, parece-me, que as origens das mazelas brasileiras estão nos próprios políticos, que, de modo geral, não zelam pelas coisas públicas, mas pelos interesses particulares, ou seja, bem diferentemente do que se dá com a social-democracia sueca, na qual ocorre a economia de mercado, com forte estado regulador, e serviços públicos eficientes que garantem o bem-estar da sociedade.
Li, recentemente, o livro Um país sem Excelências e mordomias , de autoria da jornalista Claudia Wallin, na qual relata dez anos de experiência na Suécia. Lá os vereadores não recebem proventos. Os deputados não têm assessores, não têm secretárias particulares, carros oficiais ou motoristas, cotas extras e verbas provenientes do erário público. Juízes, ministros, deputados circulam pelas ruas a pé, de trem, de ônibus, de bicicleta, o que significa que são seres comuns como são os suecos e suecas. E tem mais: Não recebem auxílio-moradia, não têm planos de saúde, pois usam o serviço público, lavam e passam suas roupas, além de fazerem as suas próprias comidas.
Em contrapartida, os 81 senadores brasileiros têm ao seu dispor milhares de comissionados ou servidores para atendê-los. Assembleias legislativas e câmaras municipais fazem uso de verbas públicas para empregos questionáveis.
Se na Suécia o poder político gera solidariedade social, por intermédio de posturas igualitárias, no Brasil o poder político se traduz em mordomias, poder pelo poder, corrupção, entre outros. Claudia Wallin conclui:
O que mais me despertou a atenção para este país singular, que há dez anos é o país onde vivo, foi a ausência de esquizofrenia nas relações entre o povo e o poder. Em outras palavras, um povo que trata seus governantes e representantes como cidadãos, e vice-versa. Um país sem Excelências.
(...) Esta é uma sociedade que elege políticos mais próximos da realidade e das dores do cidadão comum. Políticos que, em geral, não colocam a vaidade ou os interesses próprios ‘na frente dos bois', em uma sociedade que mostra que o exercício da função pode ser digno.
Portanto, a polarização política entre esquerda e direita em nada contribuirá na transformação do Brasil, mas a junção esquerda-direita, a exemplo do modelo sueco. Acredito que a perspectiva dum capitalismo, com valores éticos e humanos, a partir das ações conscientes das forças populares e políticas, gerarão reformas políticas e administrativas coerentes.
Jorge Antonio de Queiroz e Silva é historiador, palestrante, professor.